Recentemente eu voltei a dar algumas aulas de Judô voluntariamente em um projeto social que visa ensinar o esporte para crianças, adolescentes e adultos.
Ontem, em uma dessas aulas, eu e um outro professor, passamos uma brincadeira no estilo pique bandeirinha, onde as crianças precisavam atravessar para o lado adversário e pegar bolinhas trazendo de volta para o seu time.
Para dificultar e praticar a coisa nova que eles aprenderam na aula (uma imobilização feita no chão chamada de Hon Kesa Gatame), ninguém poderia ficar de pé. Toda a brincadeira rolaria em uma posição em que os joelhos não poderiam sair do chão.
Nesse dia, não havia nenhum adulto, porém, haviam 2 adolescentes graduados, isto é, possuem mais tempo de Judô.
Por serem mais graduados e mais velhos, o outro professor colocou eles para escolherem as outras crianças que iriam integrar o time deles.
Quando eles começaram a escolher, eu não consegui conter minha risada.
Hã, como era de se esperar, eles começaram escolhendo as crianças que aparentavam ser as mais "fortes" e mais velhas.
Sinceramente, não sou muito fã desse tipo de coisa. É uma droga ser um dos últimos a ser escolhido... Porém, algo que eles subestimaram e é uma filosofia do Judô, foi o conceito de que FORÇA NÃO É TUDO.
O motivo da minha risada naquele momento foi perceber o quão cego eles estavam ao avaliar apenas a perspectiva comum de um jogo, onde a ideia é que os mais fortes sempre ganham.
Mas, a verdade mesmo é que, nem mesmo nas épocas das cavernas os mais fortes sempre ganhavam.
Quando o jogo começou, eu já sabia qual time iria ganhar. Para mim, estava óbvio tudo que iria acontecer.
O time que levará as crianças menores, poderia até parecer em desvantagem para qualquer desavisado. Na verdade, como falei, seu próprio líder estava subestimando o poder que aquelas mãozinhas possuíam.
Inclusive, o líder adversário e seus membros cometeram o mesmo erro fatal.
Subestimaram tanto os pequeninos que, praticamente, eles conseguiam passar sem nem mesmo serem vistos pelos mais fortes.
Como eu havia pensado, eles conseguiam pegar as bolinhas extremamente rápidas graças ao seu tamanho, facilidade para engatinhar e sua fraqueza.
Antes mesmo que o líder adversário conseguisse tocar em uma única bolinha, os poderosos das mãos pequenas, já roubaram TODAS as bolas de seus adversários.
O Judô carrega uma filosofia que devemos utilizar a força de nosso oponente contra ele mesmo.
O próprio criador do esporte, Jigoro Kano, era um garoto franzino que não tinha nem 1,60m quando chegou na idade adulta. Apesar disso, ele conseguiu vencer diversos dos maiores lutadores do mundo com sua criação, o Judô.
Muitos de nós ignoramos e julgamos apenas a aparência como aqueles dois fizeram ao começarem escolhendo os mais fortes para seu time.
Nós, tendemos a apostar nossas fichas na ideia de força e beleza, quando estratégia e "personalidade" são as campeãs, na maioria das vezes.
Isso não significa que o forte sempre será "idiota" e que o bonito sempre será o "maldoso". O que realmente quero dizer com tudo isso é que, força não é tudo.
Obrigado por ler!
Aqui está o link, caso queira compartilhar com alguém 😄
Escrito por: Lucas Garcia
Revisado por: Emilly Oliveira
Originalmente publicado: lucasgarciajornada.com
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